Borboletas são criaturas curiosas, já reparou? Não é de hoje, mesmo, que elas despertam o interesse de toda a humanidade – prova disso é a quantidade absurda de significados que a imagem de uma simples borboleta pode ter.
Ao longo da história, esses animais pequeninos, coloridos e misteriosos passaram a representar transformação, natureza, morte, pecado. Além, é claro, de ser fonte de inspiração para diversos artistas. Pintores, músicos e poetas de agora e também de outras épocas já usaram borboletinhas em seus trabalhos.
O escritor Peter Marren, que publicou recentemente um livro dedicado a compreender a influência das borboletas na vida humana, acredita que gostamos tanto desses bichinhos por uma questão metafórica. Nos encantamos, para Marren, com a jornada da borboleta, desde quando ela é um ovo até a evolução da lagarta, nos permitindo criar inúmeras metáforas sobre vida, morte, renascimento, volta por cima e por aí vai.
Na Grécia Antiga, borboletas representavam a essência de todo ser humano. A Psique, deusa da alma, é frequentemente representada e descrita com asas de borboleta. O fato é que, como explica Marren, os gregos antigos realmente acreditavam que borboletas contavam histórias sobre a vida humana.
O significado desses animais mudou com o passar do tempo. Borboletas vermelhas, de cores brilhantes e intensas, foram logo associadas ao inferno, e representadas dessa maneira em algumas pinturas, como a do artista holandês Jan Van Huysum, que pintou uma borboleta branca – símbolo de esperança – se alimentando em um vaso de flores. No contraste, uma borboleta sombria, vermelha, diabólica.
Em outros casos, também falando em representação artística, borboletas são utilizadas para refletir medos humanos. Em “Jardim das Delícias”, de Hieronymus Bosch, borboletas são boa parte da representação do inferno, assombrando seres humanos, não representando nem de longe a beleza e a esperança que lhes é atribuída em outros momentos.
Algumas borboletas têm desenhos em suas asas que parecem olhos. Não é de se espantar que durante algum tempo o que é um mecanismo de defesa natural contra predadores tenha sido visto como uma forma divina de fiscalizar o comportamento humano. Antigamente, acreditava-se que essas borboletas eram fiscais da moral alheia.
Atualmente, esses animais perderam seu significado místico, mas nem por isso deixam de ser uma preocupação. Por causa das mudanças climáticas, muitas borboletas precisaram encontrar novos habitats na Grã-Bretanha – há relatos de espécies chegam a viajar mais de 200 km para encontrar uma nova casa.
Em alguns casos, borboletas migram para lugares de altitudes maiores e deixam de existir em regiões mais baixas, como é o caso da mountain ringlet, da espécie Erebia epiphron, típica do Reino Unido.
O fato é que se antes as pessoas acreditavam que borboletas eram mensageiras de Deus – ou do demônio –, hoje os cientistas enxergam nesses animais uma espécie de termômetro que indica o avanço das mudanças climáticas.
Nas Américas, a população da borboleta monarca, por exemplo, diminuiu consideravelmente – só para comparar: em 2004 eram 550 milhões, e em 2014, 50 milhões apenas, o que é uma queda de assustadores 90%. No final das contas, enquanto houver borboletas há esperança. Não uma esperança divina, mas a de que algo realmente sério e efetivo seja feito para melhorar o ecossistema de nosso planeta.